sábado, 28 de março de 2015

A viagem não acaba nunca

A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
José Saramago

domingo, 8 de março de 2015

Mulheres… e (des)amores


Hoje é o dia da mulher, o facto de haver, ainda, necessidade de um dia comemorativo, por si só mostra que muito há a fazer no âmbito da igualdade do género, tanto a nível profissional, como noutros níveis.

Não me identifico muito com as comemorações dia A, B, ou C pois procuro viver intensamente cada dia, procurando dar um pouco de mim, em cada situação. Comemorações com hora marcada não são certamente as que carregam mais emoção, mais sentimentos, mais espontaneidade ou as mais genuínas.

Hoje dia da mulher, não posso ignorar este assunto, pois incomoda-me, faz-me estremecer a quantidade de notícias de mulheres que morrem em cenas de (des)amor.


As mulheres, atualmente, são as mais graduadas academicamente, mas continuam a não ser as mais fortes no que toca à força física. Por isso, a este nível estarão sempre em desigualdade, serão o elo mais fraco. 
E o que esta fraqueza tem permitido…
Há dias, a Maria Z… aquela menina sorridente e extrovertida da minha escola secundária, que um dia, tal como eu,  ousou vir para longe da família à procura de um sonho, construiu o seu percurso profissional e distribuiu sorrisos solidários.  
Provavelmente nem tudo foi glamour no seu percurso, pois quando se começa de novo numa cidade desconhecida, nem tudo é fácil, mas ninguém merece um fim assim. Não consigo, sequer imaginar a dor que ficou no coração daquela mãe, da irmã e do resto da família.
E no dia da mulher é o que me ocorre, desejar muito, muito,  como fazem as crianças, que alguém consiga fazer mais pela condição e dignidade das mulheres.